quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ETE: acidente com duto mata servente

José Francisco Machado Gregório, 34, teve esmagamento de crânio após o choque entre dois dutos de concreto com mais de dois metros de comprimento.



Um acidente de trabalho nas obras de construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Ponte do Caixão matou o servente José Francisco Machado Gregório, 34, que sofreu esmagamento do crânio por uma manilha – duto pré-moldado de concreto. O acidente ocorreu ontem, por volta das 15 horas. O fato deixou os 80 operários que trabalham na construção da estação desolados. Este é o primeiro acidente fatal em 15 meses de obras. No início da noite de ontem, a Polícia Técnica Civil ainda fazia a perícia do local para liberar o corpo para o Instituto Médico-Legal (IML). O Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil interditou a obra no final da tarde.

O Corpo de Bombeiros e a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados, mas, quando chegaram ao local, encontraram o trabalhador morto. “Foi óbito instantâneo devido ao grave traumatismo de crânio”, afirmou o médico Jorel Bottene, que, em companhia de um socorrista e um enfermeiro, em uma Unidade de Atendimento Avançado – tipo UTI –, atendeu a ocorrência. No Samu, quem recebeu o chamado foi o médico-regulador José Henrique de Mello Freitas.

Bottene lamentou o ocorrido e avaliou que “o trabalho é de risco, pois há peças em movimento que, para serem estabilizadas, necessitam de auxílio humano”. Segundo ele, os operários trabalham entre dois canos, sendo um estabilizado no solo e o outro que tem de ser encaixado. Bottene disse acreditar que o acidente ocorreu durante a rotação do cano a ser estabilizado, porém, “a polícia é que vai estudar o que ocorreu”.
A manilha que atingiu a cabeça do trabalhador na ETE Ponte do Caixão é de concreto, com aproximadamente 1,60 metro de diâmetro interno e cerca de 2,20 metros de extensão.

De acordo com o sargento Almeida, do Corpo de Bombeiros, foi enviado para socorro do trabalhador uma Unidade de Resgate e outra de salvamento, com cinco bombeiros. O gerente do Consórcio COM/CESB, Maickel Ribeiro Machado, responsável pela construção da ETE Ponte do Caixão, lamentou, por meio de nota, o acidente de trabalho fatal ocorrido ontem. Na nota, o consórcio informa ainda que está prestando toda a assistência necessária à família da vítima. Segundo o consórcio, Gregório trabalhava na obra há cerca de oito meses. “A perícia da Polícia Civil faz a investigação dos fatos”, diz a nota.

Para Milton Costa, presidente do Sindicado dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Piracicaba (Sinticompi), o caso é reincidente. “Já fizemos paralisação no começo do ano pedindo melhorias na segurança e no alojamento. No começo, eles atenderam, mas agora a situação chegou no limite”.

Apesar do acidente fatal, o presidente do Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), Vlamir Schiavuzzo, disse para A Tribuna não acreditar que “ocorra atraso no cronograma da obra”, prevista para terminar em novembro deste ano. Schiavuzzo disse que aguardaria avaliação dos fatos. Ele considerou o fato lamentável e triste e disse que o “Semae está solidário e vai prestar apoio à família”.

FAMÍLIA – Após o acidente, o cunhado de Gregório, José Cláudio da Silva Ferreira, recebeu a noticia que o deixou muito abalado. “Ele era trabalhador, não perdia um dia de trabalho, inclusive aos domingos. Faz pouco tempo que ele veio de Alagoas para cá em busca de emprego e conseguiu uma vaga aqui, mas agora aconteceu isso, essa tragédia. Perdi uma pessoa que considerava um irmão”, lamentou Ferreira, que ainda pensava em qual seria a melhor forma de informar a família da morte de seu cunhado. “Não sei como vou dar a notícia para a mãe dele. Ela já é bem velhinha e tem saúde frágil. Espero que ela resista a esta péssima notícia que vou ter que dar a ela”.


Alojamento era insalubre

Com o acidente fatal, os 80 funcionários que trabalham diretamente na obra aproveitaram a presença do presidente do Sinticompi, Milton Costa, e reivindicaram, junto ao sindicato, melhorias em seus alojamentos. “Vejam só como está isso. Vamos denunciar este alojamento e amanhã (hoje) mesmo deverá ser interditado. Eles estão todos amontoados, sem banheiros, em condições sub-humanas”, criticou o sindicalista.

Segundo funcionários da obra – que preferiram não se identificar – a situação vem de longo prazo. “Eles não dão atenção às nossas reclamações e, quando a gente pede mais papel higiênico, eles ainda tiram sarro da gente questionando se a gente estava menstruado. É um absurdo. Não queremos mais isso. Tem uma sala aqui, onde deixamos algumas coisa pessoais e tem noite que infesta de ratos aqui. Já reclamamos, mas não fizeram nada ainda”, afirmaram.

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